É uma bicicletada? É a marcha da maconha? É a parada gay? Não, é a
marcha do engarrafamento... Todo dia, em uma rua próxima a você!
Lentos e Furiosos
(No Dia Sem Carro, ciclofaixa fica vazia
e carro invade faixa de ônibus; à noite, índice de congestionamento atingiu a
média máxima da cidade.)
DE SÃO PAULO
A
capital paulista teve muito engarrafamento e desrespeito às iniciativas propostas
pelo poder público ontem, quando foi comemorado o Dia Mundial Sem Carros.
Às
19h, havia 123 km de lentidão na capital, número que chega na média máxima no
ranking de engarrafamento da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
Com
sinalização tímida e sem orientação dos marronzinhos, as faixas exclusivas para
a carona solidária, em nove avenidas movimentadas, não foram respeitadas.
"Nossa, juro que nem tinha visto", disse o empresário Ananias
Gonçalves, 55, na tarde de ontem, sozinho em seu carro na faixa exclusiva na
av. Luiz Dumont Villares.
Na
Secretaria de Estado do Meio Ambiente, em Pinheiros (zona oeste), que fechou o
estacionamento para inibir o uso do carro ontem, funcionários entregaram ao
secretário Bruno Covas um abaixo-assinado protestando pelo fato de haver só 12
vagas no bicicletário. "Muita gente deixa de vir de bicicleta porque não
tem onde parar", diz a estagiária Luiza Lamos.
Mas
as trapalhadas na capital do carro não pararam por aí. A ciclofaixa entre a
estação Butantã do metrô e a Cidade Universitária foi inaugurada ontem, mas não
recebeu quase nenhum ciclista e já apresentava buracos.
"É
o começo. Isso sempre foi uma reivindicação e a galera vai acabar
abraçando", afirmou Johnny Araújo, 25, usuário solitário do espaço.
Na
zona leste, a ampliação da faixa exclusiva de ônibus na Radial Leste estreou
com desrespeito por parte de motoristas, motociclistas e até ciclistas em
alguns trechos, durante o horário de pico.
Logo
no início, próximo à avenida Aricanduva, zona leste, a Folha presenciou
20 invasões na faixa em cerca de dez minutos, por volta das 7h.
Das
40 pessoas ouvidas pela reportagem, apenas três disseram que optaram em deixar
o carro em casa.
"Demorei
menos e achei confortável. Vou adotar todos os dias", afirma Ana Maria
Mayake.
NÃO AO CARRO
Outro
tipo de transporte pode fazer a cidade ter uma vida melhor
WILLIAN
CRUZ
ESPECIAL
PARA A FOLHA
Usar
outros meios de transporte que não o automóvel traz diversos benefícios
pessoais e coletivos. O ponto comum é um gasto muito menor. E adotando
bicicleta ou o pedestrianismo, há ainda economia de tempo e previsibilidade no
deslocamento.
Além
de usar melhor seu dinheiro, passa a ter mais tempo para você e sua familia.
Libertando-se dos congestionamentos, logo nota-se diminuição do estresse e
melhora no humor, que têm como consequência maior disposição e produtividade.
Quanto
menos os carros forem utilizados, menos congestionamentos e poluição. Um ônibus
carrega dezenas de pessoas, que se estivessem cada qual em seu carro emitiriam
muito mais poluentes.
Diminui-se
também acidentes e mortes no trânsito. O viário passa a ser melhor aproveitado.
A área necessária para estacionamento diminui, permitindo calçadas maiores e
ciclofaixas. Custos com saúde pública diminuem. Todos passam a sentir e viver
mais sua cidade.
Mas
para isso é preciso mudar o paradigma sobre o qual a cidade vem sendo
construída há mais de 50 anos.
Quanto
mais se oferece infraestrutura para os automóveis, como avenidas, viadutos e
túneis, mais automóveis preenchem o espaço criado e mais o problema se agrava.
Infraestrutura
gera demanda. A que tem sido criada estimula um uso cada vez maior do automóvel
e da moto.
WILLIAN
CRUZ cicloativista, criador do site
Vá de Bike
SIM AO CARRO
Quem
inventou o Dia Mundial Sem Carro não tinha o que fazer
BOB
SHARP
ESPECIAL
PARA A FOLHA
Não
sei quem inventou essa história de Dia Mundial Sem Carro e nem me interessa
saber, não vai fazer diferença. Só sei que tal manifestação carece de qualquer
sentido prático, coisa de quem não tem o que fazer.
O
automóvel não é inimigo nem vilão. Pelo contrário, é uma das grandes conquistas
do homem, um bem de consumo que lhe proporciona algo único: liberdade
individual. Nenhum outro meio de transporte se iguala ao automóvel em
disponibilidade para usá-lo na hora que quiser e quando quiser.
Nem
mesmo o helicóptero, que chega perto, pode ser usado instantaneamente, as operações
de decolagem e pouso não são tão simples. Perde-se ônibus, avião, trem;
automóvel, nunca.
Problemas,
claro que há. Trânsito parado, dificuldade de estacionar, custo,
desvalorização, mas mesmo assim é um preço muito baixo pelo que se recebe em
troca.
Aos
que defendem o transporte público, pergunto como fazer para levar um bebê junto
ao sair? É longe de ser conveniente levá-lo num ônibus ou metrô lotado.
Aos
que advogam o uso da bicicleta, como fica num dia de chuva? Como fica no caso
de ir trabalhar e chegar transpirando? Tomar-se-á banho no trabalho? Como fica
para uma família ir de um lugar a outro?
Deixemos
que a razão prevaleça sobre a emoção. Todos sairão ganhando.
BOB
SHARP ex-piloto automobilístico e
editor do blog AUTOentusiastas