sexta-feira, 31 de maio de 2013

O que as primeiras avaliações locais de tráfego revelam


As avaliações de tráfego locais ainda que simplistas já estão começando a indicar diagnósticos.

É isto que ocorre, é o que acontece com a falta de qualidade na gestão do tráfego.
Este é uma das melhores explicações dos congestionamentos que tenho lido por aqui.
Observem que esta via, a BR116 na região metropolitana tem sempre recebido vários viadutos, só que não adianta, ela segue congestionada.

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O motivo é que não se atende a Lei Federal da mobilidade urbana e não se dá prioridade ao transporte coletivo.
Então os ônibus demoram cada vez mais no congestionamento dos carros, o custo da viagem aumenta, os passageiros diminuem, o preço da passagem aumenta e a qualidade cai, o sistema entra em colapso, os ônibus diminuem.
O tráfego e os congestionamentos aumentam.
As obras e viadutos ficam inúteis, dinheiro posto fora.

E a nossa qualidade de vida vai para o saco.
Com esta política errada.
O prefeito errado na contra-mão corta árvores para asfaltar os parques da cidade.
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Vejam o texto:
-”Embora a rodovia tenha recebido melhorias como o viaduto próximo à Unisinos e a inclusão de uma terceira faixa em Canoas, isso não foi suficiente para amenizar um tráfego impulsionado pelo aumento de 29,9% na frota do Estado desde 2008. Um alívio maior deverá ser trazido apenas pela conclusão da via alternativa BR-448, prevista para o que vem.

— A rodovia está em melhores condições graças a obras que foram feitas. O que pode explicar esse resultado é o aumento da frota ou pequenos acidentes que podem acontecer num lugar e ter reflexo bem longe — acredita o engenheiro supervisor da unidade de São Leopoldo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Carlos Pitta.
Outra razão para o inchaço é o progressivo abandono do ônibus. O trajeto feito nesta segunda-feira explicita o cenário do transporte coletivo na rodovia: a viagem foi demorada, com 33 paradas, e em nenhum momento todos os bancos foram ocupados. No final, o repórter foi o único passageiro a descer no Viaduto da Conceição. O penúltimo, o metalúrgico Daniel Santos Vargas, 47 anos, havia descido na Avenida Farrapos.”

terça-feira, 21 de maio de 2013

O papel Sócio-Transformador da Bicicleta


Crítica a pedal – ou: bicicletas para a sociedade que queremos




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No vigésimo quinto número da Revista Bicicleta quero amarrar as pontas dos vinte e quatro artigos anteriores, publicados nesta coluna mensal, para clarear o fio condutor entre eles.

Já que esta coluna está no lugar certo*, é desnecessário conceituar o que seja “crítica”, menos ainda defender o direito e a necessidade de exercê-la. Buscar descortinar, examinar e avaliar o que origina, reproduz e mantém os fenômenos culturais e as relações sociais – idéias, valores, normas, comportamentos, instituições – é uma prática mal vista apenas por aqueles que se sentem ameaçados com a possibilidade dos outros compreenderem que nosso modo de viver em sociedade não foi criado pela natureza, mas pelos seres humanos no decorrer de um longo processo histórico de luta pelo poder de formação das consciências. Ou alguém aí quer afirmar que suas opiniões são originadas puramente a partir de si mesmo?
Reconhecendo aqui suas próprias limitações na arte de tornar as idéias inteligíveis, este articulista tem se esforçado por defender a bicicleta como um símbolo de uma sociedade que precisa ser construída, tomando-a como um ponto de vista ou como um filtro de leitura da realidade. A bicicleta e os ciclistas são tratados aqui como um meio (um recurso, um modo) de se atingir outra sociedade, e não somente como uma finalidade (um objetivo, um propósito) a ser atingida em si. E isso por dois motivos: primeiro porque somente uma sociedade democrática, e cujos cidadãos se empenhem por valores não materialistas, poderá tratar os ciclistas como gente; e, em segundo, porque de nada vale uma sociedade salpicada de bicicletas se ela continuar reproduzindo os mesmos níveis de desigualdade nas demais dimensões da vida.
É claro, quanto mais bicicletas nas ruas, mais a mensagem de simplicidade, praticidade, baixo impacto, brandura, economicidade e liberdade – características essas associadas à bicicleta – será difundida. Ou seja, quanto mais bicicletas na cidade, mais contracultura nas mentes. Mas não podemos ser ingênuos a ponto de acreditar que o simples somatório de bicicletas nas ruas provocará uma revolução em cadeia, capaz de fazer as pessoas mudarem seu estilo de vida, pois este está vinculado a estruturas incomparavelmente mais fortes, tanto do ponto de vista simbólico, quanto do ponto de vista prático. No fundo, no fundo, todos sabemos que a igualdade no trânsito (com prevalência para ciclistas, pedestres e para o transporte público) só será alcançada pela sociedade que garantir igualdade de acesso também ao teto, à terra, ao trabalho, ao alimento, ao estudo, à saúde, ao amor, à justiça. Resumindo com uma pergunta: queremos somente mais bicicleta no mundo, ou um mundo que assuma a bicicleta e os valores que ela representa?
Por isso, a crítica tem que ser dirigida para a compreensão dos vínculos entre os três setores sociais: o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil. De todos os lados, a crítica mais constante, contundente e pesada tem sido dirigida ao poder público, obviamente, por sua ineficiência, sua omissão, sua concessão de privilégios – em suma, porque, neste sentido, o poder público é corrupto. Mas, paradoxalmente, os corruptores (aqueles que subornam, que recebem os privilégios, que usam o Estado como seu balcão de negócios), gozam de boa fama: o poder econômico (o mercado, o capital) inventa e produz o que quer e o quanto quer, convence as pessoas de que elas precisam desses produtos, usa o Estado para iludi-las de que elas podem comprar tudo isso desde que se esforcem, mas… é agraciado como sendo o vetor do honesto desenvolvimento.
A mudança nesse esquema perverso só poderá vir da sociedade civil: das pessoas que se organizam em função do bem estar comum, e não em função do bem estar próprio (ou da sua família, da sua empresa, do seu partido, do seu time etc.). Mas isso requer que a sociedade civil exerça a autocrítica para escapar do corporativismo que, em grande medida, ainda dirige suas ações. As organizações, formais ou não, se criam em função dos interesses de seus membros por laços de categoria profissional, de conjunto de usuários, de etnia, de orientação sexual, de reverência à natureza etc. Mas, mesmo reconhecendo a legitimidade e imparcialidade da maior parte desses vínculos, eles não têm conseguido olhar para fora do próprio quintal.
É claro, não serão as redes, os grupos, as ONGs de ciclistas que conseguirão, sozinhas, alterar esse comportamento autocentrado da sociedade civil, mas nem por isso o cicloativismo pode se furtar de conhecer o tamanho do seu desafio, a dimensão das mudanças necessárias. Não obstante os direitos civis e a liberdade das quais gozamos terem sido adquiridos pela luta da sociedade civil (e não por ação de empreendedores sociais ou de estadistas), não precisamos ser pessimistas para reconhecermos que os problemas e desigualdades no mundo avançam a passos mais rápidos do que sua solução.
Não conseguiriam os ciclistas, com seu simpático, sustentável e pedagógico objeto, contribuir para mudar a direção desse movimento? Essa seria a verdadeira a crítica a pedal!

* Inicialmente, devemos reconhecer que a Revista Bicicleta, desde seu lançamento, tem defendido a bicicleta como meio de transporte e locomoção, sem deixar de apontar as ideologias sociais, as políticas públicas e as práticas econômicas que retardam e até mesmo se contrapõem à sociedade cicloinclusiva. A revista modificou, para melhor, sua qualidade gráfica e seu conteúdo jornalístico, mas não precisou alterar sua linha editorial, que é clara: as práticas esportivas, aventureiras e de lazer do ciclismo só contarão com mais reconhecimento e segurança se à bicicleta for conferida, socialmente, a dignidade de veículo cotidiano e para o uso de todos. Portanto, esta crítica coluna está no lugar certo.

Texto: André Geraldo Soares
Artigo originalmente publicado na Revista Bicicleta com o título “Crítica a pedal” – Ano 3, nº 25 – Fev/2013 – Pag. 46.

domingo, 12 de maio de 2013

Como é pedalar em duas das maiores cidades do mundo: Londres e São Paulo.


Repórteres da BBC comparam ciclismo urbano em Londres e São Paulo


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Em meio a um cenário em que o uso da bicicleta como transporte alternativo em grandes centros urbanos – com ruas congestionadas e sistemas coletivos sobrecarregados – vem ganhando cada vez mais espaço, a BBC Brasil enviou dois de seus repórteres às ruas de Londres e São Paulo para ver de perto como é pedalar em duas das maiores cidades do mundo.
Embora na visão de ativistas e analistas a capital britânica ofereça melhores condições para os ciclistas do que São Paulo, muitos londrinos se mostram insatisfeitos e buscam inspiração na Holanda e na Dinamarca para pressionar por mais infraestrutura para as bicicletas.
Por outro lado, na maior cidade do Brasil, há sinais de uma ainda embrionária maior consciência rumo a um trânsito compartilhado, incluindo iniciativas do governo nesse sentido - mas cicloativistas argumentam que, dadas as dimensões locais, as políticas públicas ainda são insuficientes.
Ambas as metrópoles, no entanto, ainda falham ao proteger os que optam pela bicicleta como meio de transporte, registrando dezenas de mortes de ciclistas anualmente. Em 2011, 17 ciclistas perderam a vida nas ruas londrinas, enquanto na capital paulista foram 49 – o que representa praticamente uma morte por semana.

COMPARAÇÃO

Entre as semelhanças, motoristas em geral e taxistas tendem a competir por espaço e muitas vezes avançam sobre faixas dedicadas aos ciclistas.
Mas, por exemplo, no caso dos ônibus, em Londres os motoristas recebem treinamento especial para não expor os ciclistas a riscos, enquanto em São Paulo os coletivos representam uma das maiores ameaças à vida dos que optam pela bicicleta.
As diferenças entre as duas metrópoles também são evidenciadas pelos tipos de campanhas de ativistas e entusiastas do ciclismo.
Se na Grã-Bretanha o objetivo é fazer valer as ciclofaixas e ciclovias já existentes e relembrar um compromisso do governo para tornar a estrutura para o ciclista mais semelhante à de cidades da Dinamarca e da Holanda, no Brasil a principal meta ainda é batalhar pela inclusão da bicicleta no espaço urbano de forma segura e exigir a construção de infraestrutura para isso.
Em outras palavras, se em Londres os donos de quase um milhão de bicicletas estão nas ruas e lutam por avanços, na cidade de São Paulo, onde há mais de três milhões de bicicletas, muitos ainda temem usá-las como meio de transporte diário nas principais avenidas, reservando-as somente para o lazer nos fins de semana.

PERSPECTIVA

Tom Bogdanowicz, diretor da ONG London Cycling Campaign, disse à BBC Brasil que um abaixo-assinado conseguiu a adesão de 42 mil pessoas durante a última campanha eleitoral para a prefeitura de Londres – sobretudo exigindo mais segurança.
"Milhares saíram às ruas em um passeio que organizamos em apoio a isso, e agora nós estamos cobrando o candidato vencedor, Boris Johnson, sua promessa de deixar nossas ruas tão convidativas e seguras como as da Holanda”, diz.
Já a paulistana Renata Falzoni, cicloativista e bikerrepórter com mais de 30 anos de experiência, diz que é preciso colocar a situação das duas cidades em perspectiva.
Ela diz que em Londres as ruas são compartilhadas como reflexo de uma política pública que prima por isso, mesmo que ainda haja muito o que avançar, enquanto em São Paulo ciclistas têm que dividir as ruas com os carros porque essa é a única opção, diante da ausência de políticas mais efetivas.

LENTIDÃO

É fato que a capital paulista possui ciclovias, como a da marginal do rio Pinheiros, mas elas são vistas como insuficientes diante das dimensões da cidade e ativistas também apontam para a falta de integração com estações de metrô e o restante do sistema viário.
O assunto foi tema de campanha eleitoral para a prefeitura paulistana no ano passado e há iniciativas recentes, como a instalação experimental de faixas para ciclistas largarem à frente dos carros em semáforos, semelhantes às de Londres.
Mas cada vez que um ciclista morre em uma das principais avenidas da região central da cidade, o debate é retomado e ativistas voltam a apontar que é preciso fazer mais.
"Nesses últimos 30 anos já rodei 27 países de bicicleta, e nesse tempo, São Paulo mudou, mas muito lentamente. As políticas públicas são sempre muito atrasadas. No entanto, um conceito de que as ruas são para as pessoas não acontece, as ruas ainda são voltadas primordialmente para os carros. Elas continuam sendo traçadas, planejadas e geridas sempre com a preferência para os veículos”, diz Falzoni.


quinta-feira, 9 de maio de 2013

Conheça as propostas de alteração do CTB



Proposta de alterações no Código de Trânsito Brasileiro


O deputado Walter Feldman apresentou no ano passado o Projeto de Lei 4277/12, que institui alterações ao Código de Trânsito Brasileiro. O objetivo proposto é oferecer mais condições de segurança para todos os usuários do trânsito, especialmente pedestres.
Já no primeiro artigo, a alteração proposta reflete essa postura:
Em benefício do pedestre serão elaboradas políticas públicas de valorização e educação.
É direito de todo pedestre uma locomoção segura e digna, por meio de equipamentos públicos adequados a garantir fácil deslocamento e acessibilidade.
Alguns dos novos trechos sugeridos dizem respeito especificamente aos direitos dos ciclistas:
Art 28.
… é proibida a ultrapassagem de ciclista na proximidade de esquina ou cruzamento, bem como em qualquer local que demande o motorista a acessar, logo após a manobra, uma via ou faixa à direita ou esquerda, evitando-se bloquear a passagem do ciclista.
E incluem também algumas obrigações:
Art 30.
… Ao se aproximar de cruzamento, esquina ou qualquer trecho da pista que possibilite um veículo acessar outra via, o ciclista deverá sinalizar por meio de dispositivo luminoso, ou gesticulando com a mão esquerda, se continuará seguindo reto ou irá convergir para o lado, acessando a via seguinte.
A circulação de bicicletas na via sempre foi permitida, porém, alguns artigos especificavam limites mínimos de velocidade incompatíveis aos ciclistas. Uma nova redação foi proposta para eliminar essa inconsistência:
Art. 43.
… não obstruir a marcha normal dos demais veículos em circulação sem causa justificada, transitando a uma velocidade anormalmente reduzida, à exceção de agentes locomotores que estejam se movendo em limite de velocidade razoável para o meio de transporte utilizado, à exemplo de bicicletas, cadeiras de roda ou veículo de tração animal;
Art. 62. A velocidade mínima não poderá ser inferior à metade da velocidade máxima estabelecida, respeitadas as condições operacionais de trânsito e da via.
§1º O disposto no caput deste artigo não se aplica aos ciclistas.
Também foi sugerido um limite máximo para o tempo espera no semáforo para pedestre:
Art 70
§ 2º. As autoridade de trânsito deverão garantir que, nos semáforos equipados com dispositivo de acionamento por pedestre, o tempo de espera até a mudança de sinal não seja superior a 45 (quarenta e cinco) segundos.
E alguns dos já famosos artigos foram também atualizados:
Art. 201. Deixar de guardar a distância lateral razoável ao passar ou ultrapassar bicicleta, ou ultrapassar ciclista na proximidade de esquina ou cruzamento, bem como em qualquer local que demande o motorista a acessar, logo após a manobra, uma via ou faixa à direita ou esquerda:
Art. 202. Ultrapassar outro veículo ou bicicleta e parar à sua frente após a manobra:
Infração – grave;
Penalidade – multa.
No capítulo IX que apresenta a classificação de veículos foram acrescidos algumas categorias como os veículos de “propulsão mista” e “bicicleta de carga” e muitas alterações propostas citam explicitamente ciclistas, pedestres e pessoas com deficiência física e de mobilidade. Isso, na verdade, deixa o texto um pouco confuso. Se a bicicleta é classificada como veículo, é um pouco redundante um texto que fala de: “veículos e bicicletas”.
De uma forma geral, essas alterações propostas parecem realmente valorizar os atores mais frágeis e o aspecto humano do trânsito. Entretanto, vale lembrar que muitos dos artigos já existentes são simplesmente ignorados:
Entre 2009 e 2011, a autoridade municipal de trânsito – antiga Diretran, hoje Setran – autuou mais de 2 milhões de motoristas. O volume total de multas aplicadas cresceu em ritmo chinês, a uma taxa média de 15% ao ano.
Mas, somente em 4 ocasiões os agentes sacaram a caneta e bloquinho para fazer cumprir a lei e punir motoristas que desrespeitaram a distância mínima de 1,5 metro ao ultrapassar ciclistas, conforme determina o artigo 201 do CTB.
Neste mesmo período, nenhum motorista sequer foi multado por atropelar o inciso XIII do artigo 220, deixando de reduzir velocidade do veículo de forma compatível com a segurança ao ultrapassar um ciclista.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Poder Público "pedala atrás do prejuízo" após cobrança da população


Crescimento espantoso do uso da bicicleta no Chile obriga governo a construir ciclovias


Mulheres já são responsáveis por mais de 30% dos deslocamentos em Santiago. E nem o frio da capital chilena desanima quem escolhe a bicicleta para se deslocar. Foto: Claudio Olivares Medina, via Flickr
Nos últimos seis anos, Santiago ganhou um milhão de novos ciclistas. Incentivos governamentais? Infraestrutura adequada? Sinalização das vias? ”O que mudou foi a percepção social da sociedade em relação a bicicleta”, antes vista como “coisa de quem não deu certo na vida”.
Quem afirma é Amarilis Horta Tricallotis, diretora do Centro de Bicicultura, organização cidadã que promove a cultura da bicicleta em Santiago. Leia no Ir e Vir de Bike.


Nas ciclovias, nas ruas: em Santiago, as bicicletas estão por toda parte. Foto: Claudio Olivares Medina, via Flickr

Aumento exponencial

Em uma população estimada em 7 milhões, essa quantidade de novos ciclistas representa um número surpreendente. Alguns dos fatores que causaram esse crescimento foram o aumento das tarifas de transporte público e os congestionamentos, que causaram grande aumento no tempo de viagem. Nenhuma novidade para nós.
Outro fator que fez os chilenos optarem por esse meio de deslocamento foi a preocupação com o meio ambiente. Em São Paulo, o veneno no ar continua sutil e, apesar de hospitalizar crianças e idosos, ainda é quase imperceptível para quem acredita que a culpa é do ar seco ou que basta fechar as janelas; em Santiago, as características geográficas agravam o problema e fazem com que os alertas ambientais sejam comuns.
Durante esses alertas, a circulação de automóveis se torna ainda mais restrita (nesse 19 de julho, 40% dos carros sem catalisador – 4 dígitos finais das placas – estão proibidos de circular o dia todo). Barreiras como essa ao uso do automóvel fazem os cidadãos buscarem outras maneiras de se locomover, ajudando a diminuir poluição, congestionamentos e acidentes de trânsito (e é por isso que há tanta gente por aqui defendendo a implementação do pedágio urbano).


A contagem foi realizada em duas das ciclovias mais utilizadas da cidade. Foto: AyT/Divulgação


Levantamento e saturação

A consultoria Urbanismo y Territorio (UyT), em ação conjunta com a organização Cuidad Viva, realizou contagens de ciclistas em alguns pontos da cidade, com equipamento automatizado. Enquanto o fluxo de bicicletas no final de semana se manteve praticamente estável, o crescimento de seu uso nos dias úteis cresceu de forma espantosa.
A página da UyT com os resultados da pesquisa afirma que, tomando como base determinado ponto em uma das principais ciclovias da cidade, verificou-se uma taxa de crescimento anual do fluxo de bicicletas de 18,2%, no período entre 2005 e 2012. Ou seja, em pouco mais de 5 anos a demanda duplicou. A empresa afirma ainda ser urgente revisar o desenho das ciclovias, pois estão chegando ao limite de sua capacidade.


Reação do governo

O Governo chileno afirma que não teve tempo de reagir, pois o crescimento foi repentino. Alega que há planos de ciclovias para médio prazo e que, agora, são necessários  ”planos de segurança, normas e programas de educação”. Mas cicloativistas e urbanistas desconfiam e denunciam que o investimento ainda é insuficiente, se comparado ao aumento de usuários de bicicleta.
O poder público afirma haver hoje 550km de ciclovias em Santiago – infraestrutura questionada por organizações de ciclistas, já que muitas delas não cumprem padrões de segurança, não se conectam entre si e, em muitos casos, são voltadas apenas ao lazer. É como quando, aqui em São Paulo, contam as ciclovias dentro de parques como parte da infraestrutura cicloviária da cidade (e, ainda assim, não chegamos a um terço do que há em Santiago).
Agora, o poder público local vai ter que pedalar atrás do prejuízo, já que mais de um sétimo da população estará insatisfeita dentro de um ano, quando as ciclovias estiverem saturadas. E boa parte dessas pessoas vota.

Algumas fotos utilizadas aqui são de Claudio Olivares,

do ótimo blog chileno Ciclismo Urbano. Vale a visita.


por William Cruz
fonte: vá de bike